Um dos principais desafios enfrentados pelo país é reduzir a quantidade de acidentes de trânsito, bem como as mortes e sequelas causadas por eles. E um dos fatores que podem contribuir para a redução dos acidentes é a eficácia das ações de fiscalização das autoridades de trânsito, o que se reflete na aplicação de multas e infrações de trânsito. Um levantamento da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), feito em fevereiro a pedido do jornal O Estado de São Paulo, mostra que 76.577.166 multas de trânsito foram aplicadas no Brasil em todo o ano de 2022, contra 87.652.847 infrações de 2021. A principal delas foi o excesso de velocidade.
Nos dois primeiros meses de 2023, segundo dados do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest) foi registrado um total de 93.687 acidentes (40.666 em janeiro e 53.021 em fevereiro) e 1.380 mortes (751 em janeiro e 629 em fevereiro) nas ruas e estradas de todo o país (com exceção das rodovias federais). O número é menor do que o apurado nos mesmos períodos dos três anos anteriores.
Em 2022, foram 153.603 acidentes (74.564 em janeiro e 79.036 em fevereiro) e 3.292 mortes (1.586 em janeiro e 1.706 em fevereiro). Em 2021, foram 153.331 acidentes (79.350 em janeiro e 76.981 em fevereiro) e 3.612 mortes (1.938 em janeiro e 1.674 em fevereiro). E em 2020, antes da pandemia da Covid-19 e suas medidas restritivas à circulação de pessoas, foram 164.192 acidentes (78.838 em janeiro e 85.354 em fevereiro) e 3.769 mortes (1.806 em janeiro e 1.963 em fevereiro).
A eficácia na fiscalização das autoridades de trânsito vem sendo aprimorada com a implementação de avanços e recursos tecnológicos, como radares, aplicativos e sistemas de georreferenciamento, no desenvolvimento de equipamentos de maior eficácia e exatidão para diversas áreas, incluindo o trânsito e as autuações de infrações de trânsito. Isso já vinha sendo constatado em um levantamento anterior do próprio Renaest, o qual mostrou que o número de mortes no trânsito no Brasil diminuiu cerca de 30%, entre 2011 e 2020, após a implementação destas tecnologias.
O engenheiro de transportes Rodrigo Aguiar, professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco), explica que as inovações têm o potencial de reduzir a quantidade de autuações indevidas ou processos administrativos. “As tecnologias utilizadas atualmente são mais precisas e eficientes do que os métodos tradicionais de fiscalização de trânsito, porém, é importante lembrar que, apesar do potencial da tecnologia, ela ainda pode apresentar falhas ou ser mal utilizada. Portanto, é necessário um constante treinamento dos agentes responsáveis pela fiscalização e manutenção da tecnologia utilizada”, defende.
O trabalho dos agentes de trânsito também tende a ser beneficiado por causa da tecnologia, afinal, os aparelhos acabam tornando o trabalho mais ágil, simples e eficiente. Alguns exemplos são os dispositivos móveis, como smartphones e tablets, que têm capacidade de verificar informações em tempo real, tanto dos veículos quanto dos condutores. Já os equipamentos de comunicação, como os rádios, são responsáveis por permitir que os agentes trabalhem em equipe e possam coordenar suas atividades.
Além disso, existem os GIS (Sistemas de Informações Geográficas), que facilitam a visualização dos agentes acerca da infraestrutura de transporte, por exemplo, a sinalização. Junto a este, os sistemas de gestão de tráfego possibilitam a monitoração do fluxo de veículos em tempo real. E, ainda, os sistemas de emissão de multas, que permitem o registro de infrações de forma mais rápida e eliminando a necessidade de preencher formulários de papel.
Também de acordo com Rodrigo, os aparelhos implantados nas rodovias exercem papel fundamental no dia a dia. Entre eles, estão os radares de velocidade, sistemas de reconhecimento de placas, câmeras de vigilância e semáforos inteligentes – controlados por um sistema de computador centralizado que ajusta a programação do semáforo com base no volume de tráfego em tempo real. “Além disso, sistemas compostos por câmeras de alta tecnologia e um software com Inteligência Artificial é capaz de flagrar motoristas em atitudes imprudentes, como falar ao celular enquanto dirige e não usar o cinto de segurança”, pontua o professor.